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Morre o abolicionista Luís Gama

Poeta, jornalista e advogado, ele atuou na libertação de centenas de pessoas escravizadas
Por History Channel Brasil em 14 de Junho de 2023 às 16:39 HS
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O poeta, jornalista e advogado Luís Gama morreu em 24 de agosto de 1882, aos 52 anos, em São Paulo, devido a complicações causadas pela diabetes. O intelectual se destacou na luta contra a escravidão no Brasil, sendo um dos maiores defensores da causa abolicionista. Nascido de mãe negra livre e pai branco, ele mesmo foi escravizado na infância.

Defensor do abolicionismo 

Luís Gama era filho de um fidalgo português, cujo nome nunca revelou, e Luísa Mahín, africana livre da Costa Mina, importante ativista envolvida em diversos levantes de pessoas escravizadas na Bahia no início do século XIX. Nascido livre, foi vendido aos dez anos pelo próprio pai para saldar dívidas de jogo. Embora sua escravização fosse ilegal, ele foi transportado de barco como cativo para o Rio de Janeiro.

Luís Gama

Posteriormente, Luís Gama foi revendido a um alferes que o levou para o interior de São Paulo. Eventualmente, ele foi vendido mais uma vez e passou a morar na capital paulista, onde exercia ofícios domésticos. Durante esse período de cativeiro, ele aprendeu a ler, influenciado por um hóspede do homem que o havia comprado. Essa experiência despertou nele a determinação de fugir e buscar provas de sua própria liberdade.

Embora não haja detalhes sobre como Luís Gama conseguiu provar que havia nascido livre, ele obteve sucesso nesse feito. Em 1850, Gama tentou ingressar no curso de Direito da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Negro e pobre, não foi admitido formalmente como aluno. Entretanto, permaneceu nos corredores da faculdade, frequentou a biblioteca e assistiu a inúmeras aulas como ouvinte. Assim, adquiriu conhecimentos jurídicos sólidos que lhe possibilitaram atuar na defesa jurídica de pessoas escravizadas. 

Atuando como advogado provisionado (profissional sem formação acadêmica que obtinha autorização para exercer a advocacia), Gama tornou-se o maior especialista jurídico na libertação de escravos. Com base em sua própria experiência como ex-escravizado e em seu conhecimento jurídico autodidata, ele lutou incansavelmente pelos direitos de escravizados e libertos. Gama defendeu centenas de casos de pessoas escravizadas que buscavam a liberdade nos tribunais, utilizando argumentos jurídicos inovadores e pioneiros, além de ter trabalhado na defesa de pessoas pobres, inclusive imigrantes europeus. 

Além de seu trabalho como advogado, Luís Gama também foi um prolífico escritor e jornalista. Ele contribuiu para diversos jornais e revistas abolicionistas, denunciando a crueldade do sistema escravagista e defendendo a igualdade racial. Suas obras literárias e artigos jornalísticos foram importantes instrumentos de conscientização e mobilização da sociedade em relação à causa abolicionista.

O legado de Luís Gama como abolicionista e defensor dos direitos humanos é amplamente reconhecido e celebrado. Em 2020, a Universidade de São Paulo (USP) concedeu a ele, de forma póstuma, o título de doutor honoris causa.

Imagens
Domínio Público, via Wikimedia Commons